News - Briefing de Mercado

Temor em relação a sistema bancário volta e derruba bolsas
30/03/2009

30 de Março de 2009 13h33
Bruno Azevedo

São Paulo, 30 de março de 2009 - O mercado financeiro internacional volta novamente sua atenção para o sistema financeiro. A aversão ao risco que ficou emestado latente na semana passada, volta com força, fazendo despencar as ações de bancos e derrubando também as commodities metálicas e a cotação do petróleo. Além disso, a busca por uma solução para a indústria automobilística norte-americana atrai a atenção dos investidores. Tudo isso justifica a baixa de 2,94% do Ibovespa, principal índice da BM&FBOVESPA, que opera aos 40.675 pontos. O volume negociado era de R$ 1,702 bilhão.

Os resultados do Bank of America em março não vieram favoráveis como nos dois primeiros meses do ano, fortalecendo a preocupação do mercado com o setor financeiro.

Na Espanha, o Banco Central anunciou o primeiro resgate a um banco no país eassumiu a administração do banco regional de poupança Caja de Ahorros Castilla La Mancha (CCM), afirmando que irá injetar liquidez na companhia. O banco central afirma que o CCM responde por menos de 1% dos ativos do sistema bancário espanhol e disse que este continua sólido, apesar de não ser imune a crise financeira internacional.

Já o banco alemão Hypo Real Estate informou que o governo da Alemanha vai comprar uma participação de 8,7% na instituição financeira por 60 milhões de euros. Por meio do Fundo de Estabilização do Sistema Financeiro Alemão (Soffin, na sigla em alemão), o estado irá adquirir 20 milhões de ações, que serão emitidas pelo preço mínimo previsto por lei de 3,00 euros por ação. A tomada do controle total do banco pelo governo alemão é um pré-requisito para a recapitalização necessária da instituição.

Por outro lado, 15 líderes dos principais bancos norte-americanos prometeram cooperar com os esforços do governo para restaurar a economia e o sistema financeiro durante encontro com o presidente Barack Obama na última sexta-feira.De acordo com relato do "The Wall Street Journal" (WSJ), alguns dos diretorespresentes informaram que pretendem devolver até o final deste ano os recursos aplicados pelo Estado em seus bancos. Entre os participantes da reunião estavam os CEOs do JP Morgan, Bank of America, Wells Fargo, Morgan Stanley e Citigroup, bancos que receberam ajuda estatal.

O secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, disse que seu departamento ainda conta com aproximadamente US$ 135 bilhões dos US$ 700 bilhõesaprovados pelo Congresso no âmbito do programa de alívio de ativos problemáticos (Tarp, na sigla em inglês). Geithner afirmou que o montante dá ao governo recursos substanciais para avançar no plano de estabilizar o sistema financeiro. O secretá

rio, contudo, evitou responder se o governo vai solicitar ao Congresso mais recursos aos bancos. "Os motivos que fizeram as bolsas subirem na semana passada são os mesmos que as derrubam hoje. O mercado acreditou que parte dos problemas estavam se resolvendo, mas eles continuam existindo e em grande magnitude. A crise continuasevera e sem horizonte para terminar, com a percepção de aversão ao risco por parte dos investidores", diz o gestor de renda fixa da Global Equity, Octávio Vaz.

Segundo Vaz, as discussões em torno de uma solução para a crise nas montadoras de veículos nos Estados Unidos também justifica o viés de baixa dos mercados nesta segunda-feira. Neste fim de semana, o CEO da General Motors, RickWagoner, se afastou do cargo. Ele será substituído pelo presidente e diretor operacional da companhia, Fritz Henderson. Em comunicado, o executivo disse que o seu afastamento foi solicitado por integrantes da administração federal, em Washington, na última sexta-feira. A empresa já recebeu US$ 13,4 bilhões do governo norte-americano e aguarda o anúncio de novas medidas da administração para salvar suas operações.

A expectativa é de que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anuncie hoje a ampliação do socorro estatal à indústria automotiva norte-americana, exigindo concessões de todas as partes envolvidas com o setor. De acordo com reportagem do jornal "The New York Times", Obama deve liberar mais recursos para as combalidas General Motors (GM) e Chrysler. Em contrapartida, o presidente vai cobrar rápidas concessões de sindicatos de trabalhadores e credores das empresas, no sentido de evitar a falência das montadoras.

Segundo o jornal, o grupo que trabalha no plano constatou que, mesmo com a ajuda, a possibilidade de quebra continuará ameaçando as duas empresas. A GM deve aproximadamente US$ 28 bilhões a portadores de títulos de dívida da empresa, e o governo está pressionando os credores para reduzir o montante em dois terços. O governo norte-americano já liberou US$ 17,4 bilhões em empréstimos para a GM e a Chrysler no final do ano passado. Não obstante, a GM está pedindo recursos adicionais de US$ 16,6 bilhões, enquanto a Chrysler quer mais US$ 5 bilhões.

"Além disso, o megainvestidor George Soros fez uma previsão preocupante neste fim de semana, dizendo que o Reino Unido poderá precisar de bilhões de libras esterlinas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para enfrentar a crise", disse Vaz.

Por outro lado, indicadores do Japão agravam a percepção do mercado. A produção industrial do país recuou em fevereiro na comparação com o mês anterior. De acordo com informações preliminares do Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão, o índice de produção industrial desceu 9,4% em fevereiro, na comparação com janeiro. Em relação ao mesmo mês de 2008, o indicador de produção industrial recuou 38,4%.

O sócio-diretor da AZ Investimentos, Ricardo Zeno, aposta na volta da aversão ao risco no sistema financeiro como explicação para a baixa de hoje, com a forte queda das ações de bancos lá fora e também aqui no Brasil. "Além disso, tivemos ganhos acumulados de mais de 6% na semana passada aqui no Brasil. O que está acontecendo hoje é, em parte, uma realização de lucros", afirma.

Ainda na Europa, a Comissão Européia informou que a confiança dos consumidores e dos empresários enfraqueceu novamente em março, indicando o avanço dos receios com relação ao crescimento da região. A confiança no setor industrial desceu de -36 pontos, em fevereiro, para -38 pontos. A confiança do consumidor na Eurozona diminuiu para -34 pontos no terceiro mês deste ano, ficando abaixo dos -33 registrados em fevereiro.

No Brasil, o governo federal decidiu prorrogar por mais três meses, até 30 de junho, a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o setor automotivo, com a contrapartida da manutenção dos empregos pelas montadoras. Também serão beneficiados os setores de motocicletas e materiais de construção. As montadoras, porém, estão livres para implementar programas de demissão voluntária e demitir trabalhadores temporários ao final de seus contratos. A previsão de renúncia fiscal com essas medidas é de R$ 1,5 bilhão.

Para compensar a perda de arrecadação com a desoneração fiscal, o governo vai elevar o IPI e a Cofins sobre os cigarros. O produto ficará entre 20% e 30% mais caro.

Boletim Focus

O mercado financeiro revisou para baixo e pela quarta vez seguida a projeçãopara o crescimento da economia neste ano. Na semana passada, a previsão, que jáera de expansão de apenas 0,01%, passou para zero, segundo o Boletim Focus, do Banco Central (BC), levantamento semanal feito com 100 instituições financeiras com as previsões para os principais indicadores do País. Para 2010, a previsão foi mantida em 3,5%.

Já no Relatório Trimestral de Inflação, também do BC, a estimativa para o crescimento do PIB neste ano foi revisada de 3,2% para 1,2% pela instituição. No último dia 10, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou queda de 3,6% no PIB brasileiro entre o terceiro e o quarto trimestre de 2008. Em relação ao mesmo período de 2007, o crescimento foi de 1,3%, sendo de 5,1% no ano.

Por outro lado, o Banco Central afirma que resultados recentes mostram uma recuperação relativa da economia brasileira. A melhora das perspectivas de inflação, consequência da redução da atividade, permitiu que a autoridade monetária iniciasse um processo de flexibilização de sua política, com cortes mais expressivos na taxa de juros, a Selic. Segundo o BC, essa suavização da política monetária, aliada a outras políticas públicas terá resultados anticíclicos.

Entre os balanços divulgados desde sexta-feira, após o fechamento do mercado, a Sadia registrou em 2008 o primeiro prejuízo anual em 64 anos, com perdas de R$ 2,484 bilhões, ante lucro de R$ 768,348 milhões em 2007. Apenas no quarto trimestre do ano passado, o prejuízo foi de R$ 2,042 bilhões, revertendo o lucro de R$ 374,452 milhões no mesmo período do ano anterior. Já a receita operacional líquida subiu 23,2% em 2008, para R$ 10,729 bilhões. A empresa informou que todas as operações alavancadas de derivativos foram liquidadas e que as perdas decorrentes foram contabilizadas como dívidas. A ação preferencial da Sadia (SDIA4) avançava 2,65%, a R$ 3,09.

O presidente do conselho de administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, disse hoje, em reunião com analistas que as negociações para uma fusão com a Perdigão continuam, mas que estão sendo administradas pelos bancos, advogados e assessores financeiros das duas empresas. Segundo ele, "na hipotética possibilidade de fusão, a discussão seria como encontrar uma razoável relação da composição da terceira empresa que se formaria."

A Eletrobrás apurou lucro líquido de R$ 3,038 bilhões no quarto trimestre de2008, o que corresponde a um crescimento de 85,4% em comparação com o mesmo período de 2007. Na comparação de 2007 para 2008, o lucro líquido cresceu 296,4%, passando de R$ 1,548 bilhão para R$ 6,136 bilhões, e as receitas subiram24,2%, indo de R$ 24,735 bilhões para R$ 30,732 bilhões. A variação cambial proporcionou uma receita líquida de R$ 4,297 bilhões em 2008, com a venda da energia de Itaipu Binancional. A ação PNB da Eletrobrás (ELET6) recuava 1,25%, a R$ 24,34.

A MPX Energia teve lucro líquido de R$ 121,6 milhões no quarto trimestre, mais de 22 vezes superior ao ganho de R$ 5,1 milhões em igual período de 2007. Em 2008, o lucro líquido consolidado, que inclui todas as controladas, somou R$ 204,1 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 104,1 milhões do ano anterior. O papel da MPX (MPXE3) sobe 1,5%, a R$ 203,00.

Ainda no setor elétrico, a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) registrou lucro líquido de R$ 258,444 milhões no resultado consolidado de 2008. Houve queda de 25% em relação ao lucro líquido de 2007, de R$ 345,990 milhões. O papel da companhia (CLSC6) cai 1,87%, a R$ 31,89.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) teve lucro líquido de R$ 113,3 milhões no quarto trimestre do ano passado, crescimento de 33,9% sobre o mesmo período de 200. No total do ano, o lucro recuou 4,5%, para R$ 1,008 bilhão, ante R$ 1,055 bilhão em 2007.No acumulado de 2008, a receita somou R$ 6,352 bilhões, alta de 6,4% sobre 2007. As ações da Sabesp (SBSP3) caem 2,98%, a R$ 25,35.

Ontem à noite, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) anunciou um lucro líquido de R$ 3,936 bilhões no quarto trimestre de 2008 ante lucro de R$ 508 milhões no mesmo período de 2007. No ano, o lucro cresceu 98%, de R$ 2,922 bilhões para R$ 5,74 bilhões ao final do ano passado. No acumulado do ano, a receita líquida cresceu 22%, para R$ 14,033 bilhões. A ação da CSN (CSNA3) cai 3,16%, a R$ 33,40.

Ainda no ambiente corporativo nacional, a CPFL Geração de Energia pretende emitir em abril até R$ 85 milhões em notas promissórias comerciais. Os recursos serão usados para reforçar o capital de giro da companhia. O papel preferencial da empresa (CPFE3) tem queda de 1,38%, a R$ 30,52.

A Construtora Tenda é outra empresa que pretende se capitalizar no próximo mês. A companhia informou que deverá emitir R$ 600 milhões em debêntures com vencimento em 01 de abril de 2014 para financiar a construção de empreendimentosimobiliários incorporados e a incorporar, com o foco exclusivo no segmento popular. As ações da Tenda (TEND3) sobem 1,15%, a R$ 1,76.

A ação PNA da Vale (VALE5) é a mais negociada na BM&FBOVESPA hoje, com giro de R$ 283,261 milhões (baixa de 3,85%, a R$ 26,72). Em seguida, vem Petrobras PN(PETR4), com movimento de R$ 242,820 milhões (negativa em 3,47%, a R$ 28,56), e Vale ON (VALE3), com R$ 103,696 milhões (queda de 5,17%, a R$ 30,58).

Mercados internacionais

No mercado norte-americano, o Dow Jones Industrial, da Bolsa de Nova York, caía há pouco 3,25% a 7.523,77 pontos, o Nasdaq Composto operava em baixa de 2,98%, a 1.499,11 pontos, e o S&P 500 recuava 3,22%, a 789,60 pontos.

No mercado europeu, as principais bolsas operam em queda. O FTSE-100, da Bolsa de Londres, cai 3,48%, a 3.762,91 pontos, o DAX-30, de Frankfurt, recua 5,03%, a 3.991,71 pontos. Já o índice CAC-40, de Paris, tem desvalorização de 4,26%, aos 2.719,34 pontos, o Ibex-35, da Bolsa de Madri, desce 4,11%, a 7.601,1pontos, e o índice SMI-20, da Bolsa de Zurique, recua 2,14%, a 4.767,92 pontos.

No mercado de commodities, o preço do barril de petróleo WTI com entrega paramaio, negociado na Bolsa de Nova York, recuava 5,80% cotado a US$ 49,34. Em Londres, o produto tipo Brent, com vencimento em maio, descia 5,75%, a US$ 48,99.

Câmbio

O dólar à vista operava há pouco em alta de 1,56%, a R$ 2,3290. Já o dólar futuro, com vencimento em abril, avançava 1,56%, para R$ 2.329,00.

Segundo as instituições financeiras consultadas para o Boletim Focus, o câmbio dever encerrar o ano em R$ 2,30. A projeção foi mantida pela décima semana consecutiva. Para 2010 outra manutenção na estimativa, também em R$ 2,30.

Já o Boletim Trimestral de Inflação projeta um câmbio em R$ 2,35 ao fim de dezembro deste ano.

Juros

Na BM&FBOVESPA, na ponta curta da curva de juros futuros, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em maio operava, há pouco, em queda, passando de 11,12% para 11,09%. Já o contrato para julho operava em baixa, de 11,32% para 11,30%, enquanto o DI de janeiro de 2010 passava de 9,8% para 9,77%.

O Indice Geral de Preços Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) teve deflação de 0,74% em março. No mês anterior, o indicador tinha registrado nflação de 0,26%. No ano, o IGP-M acumula deflação de 0,92%, e, em 12 meses, alta de 6,27%.

O mercado financeiro revisou para baixo suas projeções para a inflação de 2009 medida pelo Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que passou de 4,42% para 4,32%. Foi o quarto corte seguido na estimativa apontado no Boletim Focus, do Banco Central. A meta do governo é de alta de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.

Já a projeção de inflação registrada pelo IPCA para este ano feita pelo Banco Central em seu Relatório Trimestral de Inflação foi revisada para 4%, baixa de 0,7 ponto percentual. A redução de projeções no cenário de referência éreflexo, segundo a autoridade monetária, da redução da atividade que aliviou aspressões de demandas obre o setor produtivo. Segundo o documento, "reflete, fundamentalmente, os efeitos da elevação da ociosidade dos fatores de produção observada no quarto trimestre de 2008, que de certa forma se sobrepõem aos efeitos da redução da taxa básica de juros determinados pelo Copom em suas duas últimas reuniões".

Já as projeções para a taxa básica de juros no fim do ano não se alteraram segundo o Boletim Focus, sendo mantidas em 10,25% em abril, e em 9,25% ao fim do ano.No Boletim Trimestral de Inflação, a Selic esperada para o fim do ano é de 11,25%.

Fonte: Agência Leia

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