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PERSPECTIVA BANCOS: Medidas do governo têm efeito limitado sobre spread
17/02/2009

17 de Fevereiro de 2009 08h30
Eduardo Laguna

São Paulo, 17 de fevereiro de 2009 - O cenário de incertezas na economia internacional e nacional restringiu a capacidade dos instrumentos de política monetária de puxar para baixo o spread bancário (a diferença entre a taxa de captação e a taxa cobrada aos clientes).

Segundo analistas consultados pela Agência Leia, as ferramentas disponíveis pelo governo - como a redução dos juros básicos (Selic), o corte de impostos e a liberação de compulsórios - tendem a surtir efeito limitado sobre os spreads dos bancos diante da tendência de alta da inadimplência neste momento.

Assim, apesar da pressão, o governo tem pouco espaço de manobra para efetivamente puxar os spreads para baixo. "O spread só vai cair com uma mudança positiva no quadro de inadimplência", afirma o analista da Lopes Filho & Associados, João Augusto Salles.

Não obstante a liberação dos depósitos compulsórios e do declínio nos juros,os spreads bancários se mantêm em níveis elevados no Brasil, chegando a 30,6 pontos percentuais em dezembro, no maior nível desde agosto de 2003.Na luta para reverter a situação, outra frente de atuação do governo tem sido a redução das taxas cobradas pelos bancos estatais. Contudo, as instituições financeiras públicas não têm força suficiente para fazer os bancos privados a seguir o mesmo exemplo, apontam os analistas.

"Os juros também não devem cair de forma agressiva nos bancos estatais porque isto poderia colocar em risco as finanças dessas instituições em um quadro de crise", aponta João Augusto Salles.

A questão dos spreads tem sido o principal embate travado entre o governo e os bancos privados nos últimos meses. Depois da queda dos juros, a administração Lula quer uma redução dos spreads cobrados pelos bancos privados nos repasses de crédito para empresas e pessoas físicas, para que o custo do empréstimo fique mais barato ao tomador final.

Por sua vez, a iniciativa privada diz que o tema é complexo e que as mudanças no spread não dependem apenas dos juros básicos. "Se fosse simples reduzir o spread, o governo baixaria por decreto", disse, recentemente, o presidente do Bradesco, Marcio Cypriano.

"O spread é uma função que envolve diversos fatores, desde as especificidades no funding dos bancos, que influenciam nas taxas de captação, até a ponta do empréstimo ao consumidor", lembra o analista da Neo Investimentos, Augusto Lange.

Segundo os analistas, as duas principais ferramentas do governo para influenciar os spreads são as políticas de juros e de compulsórios. "Uma liberação de compulsórios traz mais recursos ao mercado, o que tende a baratear o custo de captação dos bancos", diz Lange.

Outra alternativa do Estado seria atuar por meio de política fiscal, com cortes de impostos às instituições bancárias e financeiras. Um levantamento do Banco Central realizado em 2007 mostra que os impostos (diretos e indiretos) representavam 18,34% do spread bancário. Os compulsórios sobre os depósitos à vista por 3,54%, e os custos administrativos com 13,5% do spread.

Contudo, a inadimplência, no período, tinha uma participação de 37,35% e a tendência de aumento no atual nível de inadimplência tende a elevar esse peso na composição do spread. Com o aumento no inadimplemento, os bancos precisam trabalhar com maiores provisões, o que pressiona para cima os spreads.

"A inadimplência deve subir fortemente até maio e os bancos consideram este cenário em seus cálculos", afirma o economista da AZ Investimentos, Rafael Almeida. Para o analista, uma redução nos spreads dependerá de uma melhora no cenário econômico geral, sem isso, além de os spreads se manterem elevados, os bancos elevarão, também, as exigências por garantias reais no ato de concessão de empréstimos.

Fonte: Agência Leia

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