Indicadores e balanços
negativos derrubam mercados
30/01/2009
29 de Janeiro de 2009
19h46
Carolina Marcondes
São Paulo, 29 de janeiro
de 2009 Os resultados corporativos
negativos, aliados a indicadores ruins,
fizeram com que os mercados mundiais
tivessem um dia de fortes perdas,
levando o Ibovespa, principal índice
da BM&FBOVESPA, a acompanhar as
demais bolsas globais e terminar em
queda. Ao final do pregão,
a desvalorização foi
de 1,46%, a 39.638 pontos. O volume
financeiro total somou R$ 2,832 bilhões.
"Os dados divulgados
hoje são os piores dos últimos
tempos, e os balanços ruins
estão dando o tom do mercado",
afirma o sócio-diretor da AZ
Investimentos Ricardo Zeno. Para ele,
os dados de desemprego que saíram
hoje nos Estados Unidos são
um reflexo claro da crise na economia
real, e o primeiro semestre deste
ano será marcado pela tentativa
de assimilação destes
fatos negativos. "Ontem, o mercado
subiu por causa do pacote econômico
do presidente Barack Obama, mas hoje
ele parece ter se esquecido disso."
Segundo o Departamento do Trabalho,
a quantidade de pedidos de seguro-desemprego
nos Estados Unidos veio acima, para
pior, das expectativas do mercado.
Foram 3 mil solicitações
a menos na semana encerrada no dia
24, para 588 mil, ante o total revisado
de 591 mil novos pedidos na semana
anterior.
Além disso, os pedidos de
bens duráveis recuaram em dezembro
pela quinta vez consecutiva, refletindo
a retração na demanda
por vários produtos, de acordo
com o Departamento do Comércio.
Os números vieram abaixo da
previsão dos analistas. Os
pedidos caíram 2,6%, ou US$
4,7 bilhões, para US$ 176,8
bilhões no último mês
do ano passado, na comparação
com dezembro de 2007. No acumulado
de 2008, o indicador retraiu 5,7%,
na comparação com o
ano anterior.
As vendas de imóveis novos
no país caíram em dezembro
em ritmo muito mais acentuado do que
o esperado, comprovando o enfraquecimento
do mercado imobiliário do país.
As vendas recuaram 14,7%, para uma
taxa anualizada de 331 mil residências,
abaixo do total revisado de 388 mil
em novembro, ficando no menor nível
da série histórica,
segundo o Departamento de Comércio.
As vendas acumulam queda de 44,8%
em relação ao mesmo
mês do ano anterior.
Já entre os balanços
corporativos negativos do dia, destaque
para a Ford Motor Company, que divulgou
que seu prejuízo líquido
aumentou para US$ 5,875 bilhões,
ou US$ 2,46 por ação,
no último trimestre de 2008.
No mesmo período de 2007, a
montadora registrou perdas de US$
2,811 bilhões, ou US$ 1,33
por ação. O resultado
surpreendeu negativamente os analistas,
que previam perdas de US$ 1,19 por
ação. A receita caiu
33,8%, para US$ 29,2 bilhões.
No âmbito doméstico,
o Banco Central divulgou hoje a ata
da reunião do Comitê
de Política Monetária
(Copom), que na semana passada reduziu
a taxa básica de juros em 1,00
ponto percentual, para 12,75% ao ano.
Segundo o órgão, a desaceleração
da atividade econômica e a consequente
redução do consumo arrefeceu
as pressões sobre a inflação
no Brasil e encorajou o corte. O Copom
avalia que houve queda da demanda,
que continuava bastante robusta até
o terceiro trimestre de 2008, respondendo,
ao menos parcialmente, pelas pressões
inflacionárias. A autoridade
monetária acredita que é
possível novos cortes sem colocar
em risco a meta de inflação.
"A ata sinalizou que
a pressão inflacionária
já não é tão
grande e mostra que o governo deverá
passar a atuar na ponta contrária,
reduzindo a taxa", diz Zeno,
da AZ Investimentos. Segundo ele,
entretanto, a possibilidade é
positiva, "mas não é
apenas isso que fará o investidor
sair da renda fixa para voltar à
variável".
Para o sócio da Rio Verde
Investimentos, Eduardo Cavalheiro,
a ata do Copom mostrou apenas o que
o mercado já sabia: mostrar
que novas reduções na
Selic estão a caminho. "Agora,
o mercado se volta à divulgação
do PIB do quarto trimestre nos Estados
Unidos. Se os números vierem
muito ruins e não houver nenhuma
compensação positiva,
teremos mais um dia de perdas",
prevê. As estimativas apontam
retração de 5,4%, após
queda de 0,5% no terceiro trimestre.
De volta ao Brasil, apenas 17 ações
listadas no Ibovespa encerraram o
pregão em alta. Entre as maiores
valorizações, estavam
as duas ações da
Usiminas: as ordinárias da
empresa (USIM3) subiram 5,4%, a R$
27,51, no melhor desempenho entre
as ações do Ibovespa,
enquanto as referenciais classe A
da siderúrgica (USIM5) avançaram
0,41%, a R$ 29,20.
A Nippon Steel, maior siderúrgica
do Japão, fechou acordo para
comprar da Vale uma participação
de 5,9% na Usiminas, segundo agências
internacionais. Com isso, a Nippon
Steel eleva sua participação
majoritária na siderúrgica
brasileira para 29,3%. Tanto a Vale
como a Usiminas ainda não comentaram
a notícia.
As ações da Redecard
(RDCD3) tiveram a segunda maior valorização
do Ibovespa, com ganhos de 2,35%,
a R$ 26,11, seguida pela ação
PN da Companhia de Transmissão
de Energia Elétrica Paulista
(TRPL4), que subiu 1,82%, cotada a
R$ 41,90.
No sentido oposto, a maior desvalorização
foi das ações da Klabin
(KLBN4), com perdas de 6,45%, para
R$ 3,19. Em seguida, a PNB da Aracruz
(ARCZ6) terminou em queda de 4,72%,
a R$ 2,02.
Ontem à noite, a Moodys Investors
Service informou que alterou a direção
da revisão do rating da Aracruz
Celulose S/A de um possível
rebaixamento para uma possível
elevação. Segundo a
agência, a ação
afeta os ratings corporativos de Ba2
na escala global e A1.br na escala
nacional brasileira, e é feita
após anúncio da conclusão
das negociações para
reestruturação da dívida
relacionada a operações
com derivados, no valor de US$ 2,13
bilhões "além de
aproximadamente US$ 500 milhões
em dívidas pré-existentes
por um período total de amortização
de nove anos".
A mesma ação considera
a aquisição potencial
pela Votorantim Celulose e Papel S/A
das ações da Arapar
S/A, que representam 28% do capital
votante da Aracruz, por R$ 2,71 bilhões,
"o que faria da VCP o acionista
controlador da Aracruz". As ações
da VCP (VCPA4) terminaram o dia em
queda de 2,06%, a R$ 14,26.
A terceira maior desvalorização
do dia foi registrada pela ação
ON da TIM Participações
(TCSL3), com recuo de 4,23%, a R$
6,80.
As ações com o maior
volume financeiro negociado foram
as preferenciais classe A da Vale
(VALE5), com R$ 414,95 milhões
(ações em queda de 2,96%,
a R$ 28,50), seguidas pelas preferenciais
da Petrobras (PETR4), com giro de
R$ 389,89 milhões (os papéis
terminaram o dia em queda de 0,67%,
a R$ 25,03). Já a Gerdau (GGBR4)
movimentou R$ 116,57 milhões,
em queda de 1,11%, a R$ 15,19.
Mercados internacionais
No mercado de ações
norte-americano, o índice Dow
Jones caiu 2,7%, aos 8.149,01 pontos.
O Nasdaq Composto recuou 3,24%, para
1.507,84 pontos, e o S&P 500 teve
desvalorização de 3,31%,
para 845,14 pontos.
No mercado de commodities, o preço
do barril de petróleo WTI com
entrega para março, negociado
na Bolsa de Nova York, caía
1,38%, a US$ 41,58. Já em Londres,
o produto tipo Brent com vencimento
em março tinha valorização
de 0,98%, cotado a US$ 45,34.
Câmbio
O dólar comercial fechou
em alta de 0,83%, a R$ 2,294 para
compra. O dólar futuro, com
vencimento em fevereiro, avançou
0,92%, a R$ 2,295. Durante a tarde,Banco
Central (BC) realizou leilão
de venda de dólares à
vista, com taxa de corte de R$ 2,291.
Juros
Entre os principais contratos de
Depósito Interfinanceiro, na
ponta curta da curva de juros futuros
o DI para abril foi de 12,35% para
12,36% e o contrato para julho recuou
de 11,75% para 11,74%. O contrato
para janeiro de 2010 avançou
de 11,23% para 11,25%.
A inflação medida
pelo Indice Geral de Preços-Mercado
(IGP-M) manteve a tendência
de dezembro, quando o indicador teve
variação negativa de
0,13%, e registrou deflação
de 0,44% em janeiro. No acumulado
de 12 meses, o IGP-M tem inflação
de 8,15%.
O mercado esperava deflação
de 0,62%, segundo a mediana das projeções
das instituições financeiras
ouvidas pela Agência Leia. As
expectativas dos economistas consultados
para o Termômetro Leia variavam
de -0,40% a -0,72%. Pelo conceito
de mediana, 50% das projeções
estavam acima de -0,62%, e 50%, abaixo.
A média das estimativas apontava
queda de 0,59%.
Agenda de amanhã
No Brasil, a Fundação
Getúlio Vargas (FGV) divulga
às 8h a Sondagem da Indústria
referente a janeiro. Nos Estados Unidos,
às 11h30 o Departamento do
Comércio informa os primeiros
dados a respeito do Produto Interno
Bruto (PIB) no quarto trimestre e
o Departamento do Trabalho anuncia
os custos trabalhistas no quarto trimestre.
Às 12h45, a Associação
dos Gerentes de Compra informa o índice
PMI Chicago, que mede o nível
da atividade industrial na região,
relativo a janeiro, enquanto às
13h a Universidade de Michigan e a
Reuters anunciam os dados revisados
da confiança do consumidor
em janeiro. Nos resultados do dia,
Chevron, ExxonMobil e Honeywell.
Fonte: Agência Leia
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